Na Dois Pontos de abril, falámos às crianças sobre o valor do sentido de humor e a importância de sermos capazes de rir de nós mesmos. Falámos ainda dos diferentes tipos de humor (rir dos outros ou rir com outros) e dos motivos pelos quais algumas pessoas não conseguem rir de si mesmas.

 

A força do humor

 Partindo do pressuposto de que «em vez de nos focarmos em todas as coisas que podem correr mal, é também importante celebrar todas as coisas que podem correr bem», Park e Peterson analisaram séculos de história, num estudo com pessoas de várias culturas, e identificaram virtudes-base que conduzem a uma vida com sentido. Identificaram também 24 forças de carácter (traços de personalidade que criam bem-estar e que se manifestam através de pensamentos, sentimentos e comportamentos) que, quando praticadas, podem conduzir a estas virtudes.

 

O humor aquilo que vivemos quando achamos algo divertido e sentimos vontade de rir é uma das 24 forças de carácter, que nos ajuda a sermos mais felizes e a trazermos alegria ao mundo. As pessoas com esta capacidade gostam de rir e de fazer os outros rir, são bem-dispostas e procuram formas leves e alegres de ultrapassar dificuldades.

 

Quando nos deixamos dominar pela vergonha cada vez que cometemos um erro ou fazemos um disparate, estamos a dar ouvidos à voz da crítica interna. Sob o comando dessa voz, nada menos que perfeito é aceitável, e devemos esconder dos outros os nossos erros e imperfeições.

É importante relembrar as crianças (e os adultos) com elevado sentido autocrítico que toda a gente faz disparates e que ninguém é perfeito. A vida não tem de ser levada tão a sério e nós não temos de nos levar tão a sério.

 

O humor é uma valiosa competência interpessoal, cria conexão. Se pudesse falar, o sentido de humor diria: «Perto de mim não precisas de ser tão sério e tão perfeito o tempo todo. Quando estás perto de mim, podes cometer erros e ser tu próprio.» E estas palavras fazem qualquer um sentir-se livre.  

Numa cultura orientada para desempenhos e resultados, vivemos num constante estado de tensão e de controlo, assoberbados por tarefas e responsabilidades. Parecemos competir uns com os outros por quem está mais ocupado, cansado e stressado, como se essas fossem as medidas do nosso valor e competência. É este estado de ser que transmitimos, inevitavelmente, às nossas crianças.

 

Uma criança de 4 anos ri, em média, 300 vezes ao dia. Um adulto de 40 anos ri, em média, 4!

Existem muitas crianças e adolescentes com medo de crescer. Este medo de crescer revela medo da perda de liberdade, medo de viver para sobreviver. Por vezes, a relutância em crescer está na base do fraco desempenho e investimento na escola. Mas existe uma forma de o adulto ser adulto sem abdicar da criança alegre e entusiasta que foi um dia. E essa forma é o humor.

O humor e a vulnerabilidade andam de mãos dadas. Criam proximidade e autenticidade nas relações interpessoais, leveza no dia a dia e maior produtividade no trabalho. A própria cultura empresarial está em mudança. Cada vez mais se procuram e valorizam líderes que lideram com humor e humanidade, e que, por isso, são capazes de criar relações autênticas e frutíferas com os seus colaboradores. O humor – aqui entendido como o rir com os outros, o rir de si mesmo e encarar as dificuldades da vida com leveza e relatividade – concorre para um ambiente de trabalho onde predomina o bem-estar. E num ambiente onde predomina o bem-estar, não temos de esconder quem realmente somos; somos aceites e valorizados na nossa imperfeição. Podermos reconhecer e ser aceites na nossa imperfeição é algo de valor inestimável para a saúde mental.

 

Estimular o humor na criança (e no adulto!)

 O humor pode ser treinado, e não precisamos de estar dependentes de coisas boas acontecerem na nossa vida para nos conectarmos com a alegria. Podemos desenvolver caminhos dentro de nós mesmos para a trazermos para o nosso quotidiano. Arriscar fazer piadas (mesmo que algumas não tenham graça nenhuma) desenvolve o sentido de humor e expõe-nos ao ridículo. Por exemplo, jogar um jogo em família, em que cada um relembra um disparate que fez, é uma excelente forma de criar um ambiente divertido em que todos se riem uns com os outros.

 

E porque não experimentar uma sessão de Yoga do Riso? Existem evidências científicas de que o cérebro humano não distingue o riso verdadeiro do riso fingido. O Yoga do Riso é uma metodologia prática que combina técnicas de respiração com o riso feito no corpo físico, simulando a gargalhada até que ela se torne real. É um movimento mundial com mais de 20 anos, hoje espalhado por mais de 100 países, que permite que qualquer pessoa ria, independentemente de ter ou não motivo para isso.

 

Recursos para estimular o humor na criança:

How to Humor Your Stress | Loretta LaRoche | TEDxNewBedford:

https://www.youtube.com/watch?v=bZMJdhe4xhQ&list=WL&index=22

 

10 Exercícios de Yoga do Riso | Sandro Lobo:

https://www.youtube.com/watch?v=LYoC4EbU91Y&ab_channel=YogadoRiso

 

Leading with Laughter: The Power of Humor in Leadership | Paul Osincup | TEDxNapaValley

https://www.youtube.com/watch?v=yhokMZdQ7gs

 

Inês Martins é psicóloga clínica e desenvolve a secção Emoções na revista Dois Pontos.